«O touro bravo é criado com o fim único de ser um animal de lide». Quem o diz é a professora da Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, Maria Luísa Jorge. «A raça Brava resulta de um processo de selecção e transformação, até à obtenção de um animal que, não perdendo as suas características de investida, permite ser submetido, através do toureio. O produto final que se procura, na produção do touro de raça Brava é, efectivamente, a bravura, característica indispensável para a realização de qualquer tipo de espectáculo taurino», explica.
A especialista aprofunda a questão e comenta que «o touro bravo constitui, portanto, uma variedade única de touro selvagem, preservada graças às ganadarias, e que estaria condenada ao desaparecimento se os espectáculos taurinos fossem extintos. A não ser pela bravura, deixa de fazer sentido produzir esta raça, uma vez que as outras raças de bovinos apresentam resultados produtivos superiores, tanto no que diz respeito à carne como, naturalmente, ao leite».
Para dar a conhecer esses conhecimentos, e outros, foi recentemente criada a disciplina opcional dedicada ao touro bravo. A cadeira intitulada «Características morfo-funcionais do Toiro de Lide» tem como uma das coordenadoras Maria Luísa Jorge que explica: «a Faculdade entendeu que faz todo o sentido a inclusão de uma disciplina que aprofunde os conhecimentos sobre as especificidades da raça Brava, particularmente o seu comportamento e as suas características morfo-funcionais, das quais decorre a sua utilização para os espectáculos taurinos, e que permita dotar os alunos com um leque de conhecimentos fundamentais para o exercício profissional nesta área».
Os ensinamentos passados prendem-se com aspectos relacionados com a produção e utilização do touro de lide. Os alunos estudam particularidades da anatomia do bovino, o comportamento e bem-estar do animal, bem como o maneio e a actividade clínica nas ganadarias. «É ainda apresentada uma perspectiva geral sobre os aspectos económicos da produção do touro de lide e sobre as principais actividades taurinas em Portugal. A par deste conjunto de ensinamentos teóricos, são realizados dois dias de formação prática em Ganadarias, que permitem ao aluno tomar contacto com esta realidade e consolidar os conhecimentos adquiridos», conclui a professora.
Sustentabilidade ambiental
Nos regimes extensivos do Alentejo e Ribatejo é fácil encontrar o touro bravo a pastorear nos terrenos. Estas condições ambientais contribuem para preservar as características do bovino, em particular a sua bravura. Maria Luísa Jorge explica: «o toiro Bravo é uma raça que é criada em regime extensivo, no montado tradicional português. Este é um sistema de produção em que se respeitam, praticamente na íntegra, as exigências da vida selvagem deste animal, precisamente porque este é um requisito indispensável para preservar o seu instinto natural de agressividade e de desconfiança para com todo o intruso e, em particular, para com o homem».
Os touros são criados num encabeçamento médio de um animal por seis hectares de terra, pelo que «há um respeito absoluto pelo equilíbrio do ecossistema, uma verdadeira reserva de fauna e flora à imagem dos grandes parques naturais protegidos, onde a intervenção do homem é reduzida ao mínimo», diz a professora, sublinhado que «acabar com a produção de touros bravos no montado tradicional português, significaria para muitas dessas terras, hoje reservadas ao touro de lide, uma outra utilização, que poderia fazer perigar a sua sustentabilidade e mesmo a sua manutenção».
Em Portugal, ainda não existem estudos sobre o impacto económico da criação do touro bravo e das festas tauromáquicas, Maria Luísa Jorge diz poder antecipar que «terá um impacto significativo em termos do emprego que oferece, de uma menor desertificação rural, em termos de turismo, por exemplo, nas regiões onde se insere».
A Faculdade de Medicina Veterinária acredita começar, em breve, um estudo que permita apurar este impacto na realidade portuguesa.
Café Portugal | sexta-feira, 23 de Julho de 2010
3 comentários:
Gostaria de ter lido neste artigo a questão da DOR, do SOFRIMENTO que essa "lide" provoca ao Touro. Ou não ensinarão aos pretendentes a veterinários que o Touro (bravo ou não) é um SER VIVO, que tem um Sistema Nervoso Central, tal como a Senhora Professora, e é sensível à dor, tal como ela?
É assim que se formam os veterinários em Portugal?
Agora já sei porque nos Canis Municipais existem tantos incompetentes.
http://www.criticamentefalando.com/2011/04/artigo4452/
Caro "Anónimo".... Em primeiro lugar agradecia que assinasse um nome (de preferência verdadeiro).
Em segundo lugar vejo que desconhece o mundo tauromáquico:
Financiar grupos organizados (forcados, tertúlias, bandas filarmónicas, associações recreativas, clubes, etc) é diferente de financiar os espectáculos em que estes participam. Os espectáculos tauromáquicos na sua grande maioria não têm qualquer financiamento público e sobrevivem à custa da bilheteira que produzem. Este é um mito criado pelos anti-taurinos que mais uma vez não é verdadeiro.
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